sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Medo.

Não é de hoje que enveredo
p'ro lado do medo do trivial;
é atemporal, em minha existência,
a simpatia pela fuga esportiva;
nativa decadência, carência
de intrínseca fibra, falência
dos fundos de galhardas vibrações.

Tardias, propositais, narrativas
ineficientes desde o meio; constantes
sensações de ser alheio ao próprio
livre arbítrio; insuficientes
explicações a mim e ti; não vivi
e não quero, porque nunca escolhi
ser o melhor, nem o primeiro.

Rápido e rasteiro é o movimento;
medida que não confere qualquer menor
descontentamento geral por parte
de quem espera muito mais daquele
ou daquilo; e o que está a consumi-lo
também aniquila minha auto-estima,
faz rima com a derrota, fabrica anedota.

Tanta energia acumulada, de papel passado,
caminho traçado, é alimento às traças
da força motriz da reinvenção pessoal;
nada é mais moral do que parecer
normal, mas não há banalidade mais clara
do que a não rara infeliz idéia
de não se atirar até bem cedo no novo.

Não desaprovo o culto à reputação;
os ocultos prazeres são encobertos
por dizeres passíveis de múltipla
interpretação; algumas inadmissíveis,
outras com velado perdão; e o êxtase
por perder o chão confirma a tese:
só envelhece quem torna o seu tempo vão.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vetores.

Em meio a linhas mesquinhas, vetores
menores, pavores normais aos comuns,
alguns minutos tornam-se uma vida desperdiçada
à margem da tela, enquanto a cera da vela
da alma é dilacerada pelo fogo soldando as idéias.

A sobra de toda esse processo faz o serviço;
esse enguiço na cabeça tem razão, poesia,
música, emoção e tradição vagabunda; miúdos
valores jogados pela janela; censurados,
controlados ruídos; um pós-moderno retrocesso.

O progresso pessoal é suado, carente de brilho
intelectual; de ponto em ponto, bar em bar,
as semanas perdem-se junto aos sinais, banais
cabelos nos travesseiros, seguros apoios
para duros tempos de reflexiva solidão.