sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Linhas.

Meu pêndulo-paixão
vibra na intensidade
da tua pulsação.

Lembro-me sempre
daquela mesa, naquele
bar, naquele bairro.

Naquela noite, raios
fizeram-se visíveis
de dentro do carro.

Todo preto, com vidro
preto e sujo da poeira
acinzentada da cidade.

Do cigarro, o papel
branco faz nova cor,
cheiro, fumaça, resíduo.

A carcaça sendo bebida
por dentro; diluída
nas ideias requebradas.

Quantas linhas seguires,
saibas: na faixa dupla, nessa
estrada, não se ultrapassa.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sãs almas.

Fogem-me as notas como
a fumaça da minha boca,
da minha brasa filtrada
em alvo-papel e espuma
escurecida, mordida, de pouco
em pouco, sob a luz refletida
de mais uma qualquer eletro-fonte.

O horizonte, entrelaçado de edifícios,
antenas, clarões, aviões comerciais,
é limitado pelo breu-censor do fuso
- horário da região - mais um
véu-detalhe do quarteirão já
consagrado pela fama
de suas noites
intermináveis
de som.

O bom
de tudo isso
é que lá estamos
e permaneceremos até
que algum desumano-contrato
nos separe, porém jamais renderemos
nossas mentes ao ofício de se sujeitarem
a desrespeitar o ritmo natural de cada uma
de nossas jovens, inquietas e brilhantes almas.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Aos [contínuos] começos.

ao Konrad.

Parece tão comum
a nebulosa aurora,
respingada da noite, que
amanheço sem aparente
bom motivo; mas, lembro-me,
é dia festivo, de doce levada;
nova jornada regada a dizeres,
sorrisos, suaves prazeres.

Venho, cá, agradacer todo
esse apreço, carinho p'ra
lá de sincero, e espero,
haja vida além da idade; que
o nosso tempo seja a eternidade.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Grão.

O grão moído que tomo,
com água quente e algum pó
pasteurizado, bege-branco
fabricado em galpões
de grandes corporações, não
se parece bom, nem é, na verdade;
mas, a vontade nunca passa.

A moça que assa, no forno,
o pão, que pouco gosto
de queijo tem, se faz
de feliz, num exercício
de auto-controle, assim
como o termômetro automático
que não deixa queimar o salgado.

O farelo prensado em castanhas,
em barra, que engulo p'ra passar
o tempo, é melado e esmagado
pelo peso da mala preta
que também carrega pasta, escova,
guarda-chuva, caneta, caderno,
revista, camisa, cigarro, perfume.

A gravidade empurra o grão,
a água, o pó, o pão guela abaixo;
a corporação torna-me pó, suga-me
água, dá-me farelo, pastas, malas,
canetas, cadernos; proíbe revistas,
camisas, cigarros, perfumes;
transforma-me em grão.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Soul.

Sou jogador, quando jogo;
sou amante, quando amo;
sou juiz, quando julgo;
perco o juízo, quando bebo.

Sou fugitivo, quando fujo;
sou negativo, quando nego;
sou subversivo, quando penso;
sou alienado, quando me calo.

Sou falante, quando falo;
sou trabalhador, quando ralo;
sou funcional, quando funciono;
sou delator, quando menciono.

Sou professor, quando leciono;
sou cirúrgico, quando acerto;
sou positivo, quando aceito;
sou decisivo, quando decido.

Sou libido, quando tarado;
Sou bandido, quando tomado
pela fome-fúria da exacerbada
luxúria provocada por ti.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ida.

Fui, foste, fomos;
Subiste, subi, subimos;
Entramos, entrei, entraste.

Suspirei, hesitaste, cortejamos;
Cumprimentaste, abracei, beijamos;
Sentamos, acomodaste, posicionei-me.

Experimentei, degustaste, devoramos;
Bebeste, me aproximei, apreciamos;
Chegou, conversamos, comemos.

Refletimos, citamos, jogamos
Palavras fora, divagamos;
Botamos fumaça p'ra fora.

É hora, que pena, saímos;
Descemos, caminhamos,
Partimos; levaste-me,
Pulei, fui.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Novas manhãs.

Estou vencido pelo cansaço. A batalha diária, de manhãs que demoram a ficar claras, ou que já amanhecem com o sol do semi-árido, dominou meu ser.

Não sinto mais as emoções que sentia. Mas também não sinto aquelas dores, e saudades.

Qualquer sentimento que me pegue desprevenido já é lucro! Ele que me pegue de surpresa, porque não tenho tempo mais para eles.

Por dois bons anos eles me agraciaram com sua melhor faceta. Mas os outros 20 e tantos foram puro sofrimento…

E agora me vejo aqui, centrado, num movimento objetivo e decidido a fazer valer. Mas cercado de solitude por todos os lados. Aquela velha mão não me atrai mais. Estou em busca de outro tipo de conexão.