quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Grão.

O grão moído que tomo,
com água quente e algum pó
pasteurizado, bege-branco
fabricado em galpões
de grandes corporações, não
se parece bom, nem é, na verdade;
mas, a vontade nunca passa.

A moça que assa, no forno,
o pão, que pouco gosto
de queijo tem, se faz
de feliz, num exercício
de auto-controle, assim
como o termômetro automático
que não deixa queimar o salgado.

O farelo prensado em castanhas,
em barra, que engulo p'ra passar
o tempo, é melado e esmagado
pelo peso da mala preta
que também carrega pasta, escova,
guarda-chuva, caneta, caderno,
revista, camisa, cigarro, perfume.

A gravidade empurra o grão,
a água, o pó, o pão guela abaixo;
a corporação torna-me pó, suga-me
água, dá-me farelo, pastas, malas,
canetas, cadernos; proíbe revistas,
camisas, cigarros, perfumes;
transforma-me em grão.

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